sábado, 27 de dezembro de 2008

Crise avança como um furacão

"A crise financeira que eclodiu com a intensidade de um furacão tropical nas últimas semanas gerou um estado de grande incerteza em relação ao futuro da ordem global. Ao expor a fragilidade do sistema monetário internacional e os precários fundamentos que sustentam a globalização dos negócios, a crise pôs por terra todos os parâmetros que balizavam os cálculos capitalistas, deixando o mundo sob a ameaça de uma depressão global sem precedentes.

Não foi por falta de aviso. Na história do capitalismo, existem inúmeros exemplos de euforias especulativas que terminaram em pânico geral. Como a marcha insensata dos acontecimentos não foi detida, a febre especulativa contaminou todos os mercados, multiplicando de maneira descabida a valorização do capital fictício e estimulando uma monumental sobre-acumulação de investimentos em escala global.

Em relação às inúmeras turbulências que marcaram a conturbada trajetória das finanças internacionais na era neoliberal, há pelo menos três mudanças significativas no caráter da crise atual, todas convergindo para a configuração de um fenômeno estrutural extraordinariamente complexo, cujo desdobramento é imprevisível.

Em primeiro lugar, a profundidade e a extensão dos desequilíbrios financeiros que precisam ser digeridos superam em tudo a hecatombe que desarticulou o sistema monetário internacional em 1929. A estreita integração do sistema financeiro internacional transformou a crise norte-americana em uma crise global incontornável. Como os sistemas financeiros nacionais estão todos interconectados, não há como conter o processo de disseminação da crise sem subverter os alicerces da ordem econômica internacional montada nas últimas quatro décadas.

Em segundo lugar, a socialização das forças produtivas gerou uma complexa teia de relações comerciais e produtivas que bloqueia a possibilidade de saídas “nacionais” para a crise global. Enganam-se, portanto, os que imaginam que é possível passar incólume pelo terremoto econômico que abala o sistema capitalista mundial. Iludem-se igualmente os que apostam na possibilidade de um retorno a Keynes uma vez que seu arcabouço de política econômica pressupunha um regime central de acumulação hoje não mais possível.

Por fim, a impotência do poder político para enfrentar a situação não permite que se vislumbre uma solução rápida e indolor para a crise. A superação da crise requer uma ação coordenada, de caráter transnacional, envolvendo todas as dimensões da vida econômica - a financeira, a monetária, a comercial e a produtiva -, cuja possibilidade de concretização até o momento sequer foi cogitada.

Por enquanto, os Estados desenvolvidos têm se restringido a uma atuação reativa, sempre atrás dos acontecimentos, comandada pela histeria dos “mercados”. Prisioneiras dos interesses do capital financeiro, as autoridades econômicas têm se restringido a administrar a crise, na vã suposição de que, após um período de fortes turbulências, a intervenção saneadora no sistema financeiro fará os mercados voltarem à normalidade.

Os que confundem a estatização do sistema financeiro em curso com a volta da regulação do capital, tomam a nuvem por Juno, pois não é o Estado que está comandando o capital financeiro, mas exatamente o contrário, o capital financeiro que está comandando o Estado. Na realidade, a economia mundial está a léguas de qualquer tipo de ação “reguladora” capaz de submeter o capital financeiro a uma racionalidade substantiva que leve minimamente em conta os interesses estratégicos da coletividade – a causa última dos problemas que geraram a crise. Em nome da necessidade de prevenir uma crise sistêmica de efeitos potenciais catastróficos, os Estados dos países capitalistas estão patrocinando o maior ataque à economia popular de que se tem noticia na história universal, sem que nada garanta, diga-se de passagem, que o cataclismo será evitado.

Não há o menor vestígio de luz no fim do túnel. A experiência da crise do liberalismo, que desarticulou a divisão internacional do trabalho que funcionava em torno da economia inglesa, sugere que a superação de crises desta envergadura demora décadas e envolve incomensurável sacrifício humano.

Para finalizar, uma última observação. A gravidade da crise não significa que a sobrevivência do capitalismo esteja em questão. Enquanto não houver uma alternativa ao regime do capital, não há dúvida de que, de uma ou de outra maneira, levando mais tempo menos tempo, as condições para a retomada da acumulação de capital serão restauradas. A virulência da crise, a magnitude do capital sobre-acumulado que precisa ser queimado, bem como a profundidade e a complexidade das mudanças que precisam ocorrer para que as condições para a reprodução ampliada do capital sejam restabelecidas sinalizam que, mais do que nunca, o desenvolvimento capitalista deve vir acompanhado de um brutal aprofundamento e generalização da barbárie."

Plínio de Arruda Sampaio Jr., economista e professor do IE/Unicamp

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Ato pela vida, na Maré


Por ordem da ANP, militantes são espancados e presos durante manifestação no Rio contra leilão do petróleo


Fonte: Agência Petroleira de Notícias
Veja fotos da atividade em www.apn.org.br
Cerca de 50 feridos e três pessoas detidas. Esse é o saldo – até agora computado - deixado pela violenta reação da Polícia Militar do Rio de Janeiro e da Guarda Municipal, durante uma manifestação pacífica, por volta de meio dia, nesta quinta, 18, na Avenida Rio Branco, em protesto contra a 10ª Rodada de Licitação do Petróleo.
Depois de receberem uma ordem de despejo, ontem à noite (17) para desocupar o Edifício Sede da Petrobrás, no Rio, os manifestantes – cerca de 500 pessoas - dirigiram-se para a Candelária, que fica perto da Agência Nacional do Petróleo (ANP), responsável pela realização dos leilões das áreas petrolíferas. Em seguida, a manifestação prosseguiu pela Avenida Rio Branco, em direção à Cinelândia.
A violenta reação da Polícia Militar e da Guarda Municipal surpreendeu os manifestantes que foram espancados durante toda a caminhada pela Avenida Rio Branco. Até agora os organizadores da manifestação, convocada pelo Fórum Nacional contra a Privatização do Petróleo e Gás, que reúne dezenas de entidades, confirmam a detenção de três pessoas: Emanuel Cancella, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ); Gualberto Tinoco (Piteu), da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas): Thaigo Lúcio Costa, estudante de jornalismo da Universidade de Santa Cecília, de Santos.
Dentre os feridos, está hospitalizado, com um corte na cabeça, no Souza Aguiar, o diretor do Sindipetro-RJ Eduardo Henrique Soares da Costa. Um militante do MST quebrou o braço, ao ser espancado pela PM. As entidades que compõem o Fórum ainda estão fazendo o levantamento do número de feridos e estão tentando localizá-los. Muitos ainda não foram encontrados.
Desde a ordem de despejo, vinda da presidência da Petrobrás, ontem à noite, os manifestantes sentiram a animosidade das forças de repressão, mas não esperavam ação tão agressiva, contra uma simples manifestação de protesto. Um dos detidos, o coordenador do Sindipetro-RJ, Emanuel Cancella, declarou:
“Nós acabamos de viver um momento que remonta à sombria época da ditadura militar. O Capitão Moreira me deu ordem de prisão, mesmo eu dizendo que era advogado. Ele bateu muito em mim. Algemou o Pitel e o estudante e os policiais feriram gravemente nosso companheiro Eduardo Henrique”. Emanuel Cancella está com um braço fraturado e costelas. Por de 14 horas estava concluindo o seu depoimento na 1ª DP, na Rua Relação, 42. Logo seria encaminhado para exame de corpo delito. A partir das 14h30, a Rádio Petroleira transmitirá flashes ao vivo.
Participavam da manifestação no Rio, parte de uma jornada de Lutas pela suspensão do leilão do petróleo, iniciada desde o dia 14 – no dia 15, houve a ocupação do Ministério das Minas e Energia, em Brasília, pela Via Campesina e petroleiros – representantes de dezenas de entidades que compõem o Fórum, dentre as quais: Sindipetro-RJ, Sindipetro-Litoral Paulista, MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) , MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados), FIST (Federação Internacionalista dos Sem Teto), FOE (Frente de Oposição de Esquerda da União Nacional dos Estudantes), as centrais sindicais Conlutas, Intersindical e CUT, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Frente Nacional dos Petroleiros (FNP), o Centro Estudantil de Santos, movimentos de estudantes secundaristas do Rio de Janeiro. A campanha “O Petróleo Tem que ser nosso” continua.
Contatos: (21) 76617258, Joba (MST); Marcelo Durão (21) 96847750; (21) 9963-3605, Francisco Soriano (Sindipetro-RJ); Moraes 21-76741786 (FUP).
É permitida (e recomendável) a reprodução desta matéria, desde que citada a fonte.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Manifestantes ocupam Petrobrás e exigem cancelamento de leilões

Mais de 500 pessoas acabam de ocupar a sede administrativa da Petrobrás, na Avenida Chile, Centro do Rio, nessa manhã de quarta, 17 de dezembro. Os manifestantes exigem o cancelamento dos leilões, em especial, a 10ª Rodadade Licitações do Petróleo e Gás brasileiros, que a Agência Nacional dePetróleo (ANP) convocou para os dias 18 e 19 desse mês. A mudança da legislação que regula o setor de petróleo e gás, permitindo a privatizaçãodesses recursos minerais, é outra reivindicação da ocupação.
Os manifestantes solicitam a realização de uma reunião com o presidente daPetrobrás, José Sergio Gabrielli, para que possam debater o cancelamento do leilão marcado para começar amanhã. Para a Campanha Nacional peloPetróleo, o Governo Federeal deve manter o compromisso de destinar os recursos do petróleo para suprir as necessidades básicas do povo brasileiro, como educação, saúde, reforma agrária e não destiná-los às multinacionais.
Serão ofertados na 10ª rodada 130 blocos exploratórios em terra, divididos em oito setores, de sete bacias sedimentares: Sergipe-Alagoas; Amazonas; Paraná; Potiguar; Parecis; Recôncavo e São Francisco. No total serão oferecidos aproximadamente 70 mil quilômetros quadrados em áreas para exploração e produção de petróleo e gás natural. Atualmente, o Brasil é o país que dispõe da maior área sedimentar com potencial para petróleo eou gás ainda por explorar no mundo, segundo a própria ANP. Os sindicatos de petroleiros também estão ingressando na Justiça com Ações Civis Públicas, cobrando a suspensão da 10ª Rodada de Licitações da ANP. Além das manifestações, está correndo um abaixo-assinado exigindo o fim dos leilões e a recuperação da Petrobrás 100% estatal.

MST, Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD),Sindicato dos
Petroleiros do Rio, FNP, FUP, Via Campesina, CONLUTAS, INTERSINDICAL,UNE-FOE, Movimento Estudantil

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008